A notícia da vinda ao Brasil de um dos mais fortes símbolos da cultura norte-americana e uma das marcas mais poderosas do mundo, Dunkin’Donuts, já está rolando há alguns meses e, no começo desse mês, a primeira loja em solo brasileiro abriu suas portas para o público, em Brasília. Como era de se esperar, houve toda uma movimentação do público para presenciar a abertura da loja, mas nada muito colossal como outras marcas americanas que estão dando as caras por aqui também, como a Forever 21, por exemplo. E o porquê disso é muito simples: o Dunkin’Donuts está voltando ao Brasil, ou seja, não é sua primeira aparição por aqui. Fora o fato de que o donuts não tem um peso tão grande em nossa cultura, quanto para os americanos.
“A ideia desse texto sempre foi a de provocar você a pensar sobre a situação do Dunkin’Donuts no Brasil. É persistência de alguém batalhador que não desiste nunca? É teimosia de criança mimada que tem que estar em todo lugar e dar certo sempre?”
O Dunkin’Donuts terminou suas operações por aqui há 10 anos, deixando o restante de suas lojas nas mãos de um grupo chamado ‘Café Donuts‘, que nada tem a ver com o conglomerado dos Estados Unidos. De lá pra cá, o maior grupo de Donuts do mundo investiu na América Latina pesadamente, mas deixando o Brasil de fora da equação. Hoje já conta com 325 restaurantes em nosso continente, tendo participações mais concentradas no Chile, Peru e Colômbia. Mas, agora eles resolveram voltar ao Brasil com força e planejam 65 lojas por aqui, pelos próximos 5 anos (foco no DF e Goiás). De acordo com a empresa, essas regiões do país foram escolhidas por conta do alto índice de poder aquisitivo per capita e pelo aumento de demanda por empresas do setor alimentício.
Agora, dessa justificativa dada pela empresa, a parte que mais me chamou atenção foi essa crescente demanda por empresas do setor alimentício. Que isso realmente vem ocorrendo, é indiscutível, mas será que a demanda é realmente por itens que o Dunkin’Donuts oferece? Lembro-me que tive que utilizar o Brasil Food Trends 2020 para alguns trabalhos na faculdade e pontos importantes como praticidade e conveniência tinham muita importância, mas perdiam quanto aos itens de saudabilidade, bem-estar, sensorialidade e sustentabilidade. Tanto que o mercado de produtos naturais, sustentáveis, ecológicos e que visam uma dieta balanceada, nunca cresceram tanto como hoje. Que sempre haverá pessoas para comprar no Dunkin’Donuts, disso não duvido, porém é número relevante a ponto de fazê-los retornar ao país? Ou será um tiro no pé, novamente?
Na nossa cultura, os donuts não passam muito mais do que o desejo de vivenciar uma experiência tipicamente americana. Poucos brasileiros sentem esse tipo de afeição com esse doce. Eu até diria que a relação que o americano possui com o donuts é, basicamente, a relação que nós brasileiros possuímos com o pão de queijo. Aqui faz sentido a Casa do Pão do Queijo, mas lá nos Estados Unidos, será que faria? Teria a mesma importância e relevância? Até que ponto uma marca pode moldar uma cultura, um hábito de uma sociedade e inserir uma nova ‘paixão’? E, só para finalizar, o investimento feito para proporcionar tal mudança cultural, seria viável?
A ideia desse texto sempre foi a de provocar você a pensar sobre a situação do Dunkin’Donuts no Brasil. É persistência de alguém batalhador que não desiste nunca? É teimosia de criança mimada que tem que estar em todo lugar e dar certo sempre? Dentro das tendências alimentícias para 2020, faz sentido investir pesado por aqui assim mesmo? Até que ponto vale descaracterizar a marca para se adaptar a uma nova cultura? Pense nisso.
Link para a publicação do Brasil Food Trends
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